sábado, 8 de setembro de 2007

"CULTURA E TURISMO: INTERAÇÃO OU DOMINAÇÃO"

Na busca por algumas notícias sobre o turismo, cultura e outros temas relacionados as discussões em sala, encontrei um artigo muito interessante, com o seguinte título "CULTURA E TURISMO: INTERAÇÃO OU DOMINAÇÃO". De fato, ele provoca certos questionamentos oportunos e que de alguma forma tornam-se essenciais nesta reflexão! Nesse sentido, resolvi postá-lo antes das notícias que virão pela frente! Abaixo segue uma parte deste artigo, mas caso tenham interesse em dar continuidade a leitura completa, basta acessar o link: http://www.fundaj.gov.br/tpd/121.html! Fiquem a vontade!


"CULTURA E TURISMO: INTERAÇÃO OU DOMINAÇÃO"
Ana Lúcia Hazin
Cleide Galiza de Oliveira
Rejane Pinto de Medeiros


"Daqui a cem anos, não valerá mais a pena viajar,pois o mundo está ficando cada vez mais uniforme."(Paul Bowles, escritor norte-americano )


Estamos vivendo na Era da Informação, em um mundo onde aprendemos, gradativamente, a encurtar as distâncias e a redimensionar o tempo. O cotidiano das pessoas está, continuamente, sendo transformado com a incorporação de produtos que permitem a comunicação com qualquer parte do planeta. Através da televisão as pessoas recebem as notícias, em tempo real, do que está acontecendo ao redor do globo terrestre; pelo telefone, principalmente, e pela internet, são enviadas mensagens, possibilitando a interação com quem está do outro lado da linha. E essas experiências de "viagens sem sair de casa" vão abrindo os horizontes e criando intercâmbios e trocas que interferem no modo de vida das pessoas.
No Nordeste do Brasil, antes do advento da televisão, os moradores das pequenas cidades costumavam sentar nas calçadas após o jantar. Lá, eles trocavam informações sobre os últimos fatos divulgados pelos programas de rádio, conversavam sobre a vida dos conhecidos, dos vizinhos e da família, sobre receitas caseiras, meizinhas para curar os enfermos e sobre experiências vividas. Não costumavam comer pizza, nem tomavam coca-cola.
Hoje, os acontecimentos locais sofrem a influência de algo vivenciado por povos do outro lado do mundo. O tempo livre dessas comunidades, assim como o seu dia-a-dia, é bombardeado pelos meios de comunicação que vendem sonhos de consumo. Através desses estímulos, a viagem televisiva vai tomando forma por meio dos devaneios que fazem crescer a expectativa quanto à realização do desejo de conhecer outros lugares, outras gentes, outras culturas.
"A idéia de viajar vem penetrando de tal forma na mente do homem moderno que, cada vez mais, se fortalece como uma conquista, um direito, uma possibilidade, um consumo. Pode-se afirmar que a viagem é hoje um dos grandes consumos criados no contexto da sociedade através dos meios de propagação coletiva, sobretudo os meios de comunicação de massa eletrônicos" (Coriolano, 1998:30).
Essas alterações no ritmo de vida dos seres humanos vai, cada vez mais, impulsionando-os a adotar, como alternativa de lazer, a viagem. E a sociedade capitalista, responsável pela intensificação do ritmo de trabalho, logo transforma essa opção de uso do tempo livre em mercadoria. Para os mais abastados, capazes de reservar um excedente de renda, são oferecidos os pacotes turísticos; para os outros, resta a opção de venda das férias e eliminação de um direito ao ócio, conquistado com muita luta; para outros tantos, sem direito sequer a um trabalho, nem isso.
O estresse e as tensões vividas nos centros urbanos contribuem para que se valorize e se destaque, como necessidade básica das pessoas, o lazer. É um período que favorece a reposição das energias, o descanso mental, o crescimento pessoal e a fuga do cotidiano. Aproveitando tal contexto, a sociedade de consumo começa a fortalecer o setor encarregado pela produção e pelo aperfeiçoamento dos produtos turísticos.
"A necessidade imperiosa de viajar é fabricada, sendo incorporada mercadologicamente ao rol das necessidades básicas do homem. É o homem urbano que constitui o chamado Homo turísticus ou Homo viajor" (Rodrigues, 1997: 26).
O início da movimentação turística coincide com o desenvolvimento da sociedade industrial, mas o surgimento de um "turismo de massas" ou um "turismo moderno" foi observado a partir da década de cinqüenta ( Molina, 1994; Trigo, 1998).
Antes desse período, já se notava uma preocupação com o assunto, pois, em 1937, a Comissão Estatística da Liga das Nações definia, como turista internacional, "a pessoa que visita um país que não seja o de sua residência por um período de, pelo menos, vinte e quatro horas", como registra Beni (1998:37).
Mais recentemente, com o aceleramento do processo de globalização, o turismo tem apresentado um desenvolvimento surpreendente, movendo milhares de dólares a cada ano. "A atividade turística passou a ser um espaço privilegiado da produção, na medida em que se tornou uma das ocupações sofisticadas do setor terciário" (Trigo, 1998: 65).
Muitos fatores contribuíram, nos países ocidentais, para o crescimento do que alguns insistem em identificar como "a indústria sem chaminé" (Lago, 1996:63; Lemos, 1999:207). Além da estabilidade política de muitos países, do crescimento econômico (com a formação das classes médias), da melhoria das condições de vida de uma parcela da população (com a redução das horas de trabalho), dos avanços tecnológicos ( com o transporte mais rápido e a comunicação facilitada), o acesso `a cultura e à educação por um maior número de pessoas despertou o interesse em conhecer outras manifestações culturais, outros lugares.
A importância econômica da atividade turística para os países é flagrante. Não há como fugir a essa realidade. Aquele que não estiver habilitado para tal, precisará fazê-lo, pois é um fenômeno mundial. Em 1980, por exemplo, a Organização Mundial do Turismo registrou um volume de US$ 105,3 bilhões, crescendo, em 1997, para US$ 443,8 bilhões o movimento decorrente dessa atividade em todo o planeta (Galindo; Guimarães, 1999: 5). Em 1991, segundo essa mesma organização, o setor ocupava 101 milhões de pessoas e os investimentos alocados correspondiam a 7% dos investimentos mundiais. "Até o ano 2003, o produto bruto estimado para o Turismo é de US$ 8 trilhões, com investimentos no setor estimados em US$ 1,7 trilhão e devendo empregar, segundo essa projeção, 350 milhões de pessoas que gerarão na atividade US$ 1,5 trilhão em impostos" (Carvalho, 1994:2).
O aspecto financeiro, entretanto, não é único. Molina (1994) ressalta a importância da comunicação entre as pessoas que viajam ou, até mesmo, o contato direto com a natureza e a cultura do lugar visitado. Essa experiência permite ao homem contemporâneo uma alternativa de "ser-ter" uma outra realidade.

Nenhum comentário: